O COMA Conto escrito por Di Monteiro

26/03/2012 19:42

Acordou numa sala toda branca, olhou em volta, uma mesa e uma cadeira e duas portas com certeza uma dava para o banheiro. Sentou se aturdida, não se lembrava como fora parar naquele lugar.Será que sofri algum acidente, pensou. Apalpou sua barriga e sentiu o curativo e uma dor aguda. Olhou em volta novamente, passou a mão nos cabelos, estavam soltos, ela não os deixava assim. Levantou, sentiu uma leve tontura e se segurou novamente na cama, o que estava acontecendo com ela? Tentou levantar novamente sentindo se melhor para caminhar, foi até a porta, não estava trancada, olhou para o corredor comprido com várias portas, todas fechadas, estava começando a ficar nervosa. Calma Cinthia, pensou, talvez tivesse sofrido um acidente mas não fora nada grave e estava em observação. Só que não lembrava de nenhum acidente. A última coisa de que se lembrava era de sair de casa as sete da manhã para trabalhar como sempre fazia todas as manhãs de segunda a sexta. Não estava com amnésia, lembrava de toda a sua vida seu marido, onde morava em que cidade e de seus pais, estava tudo na sua cabeça, só não sabia o que estava fazendo naquele lugar.

Caminhando pelo corredor, chegou a uma sala onde estava escrito Dr. Estevez, Cinthia queria respostas. Deu uma leve batida e entrou deparsndo se  com um senhor vestindo um jaleco de médico, muito alto e moreno, mas com os cabelos quase todos brancos o que lhe dava um ar distinto.

- Enfim você acordou Cinthia! Estávamos todos ansiosos. Espero que esteja se sentindo bem. Até a semana passada você estava cheia de tubos e agora acorda em uma sala sem nenhum aparelho, deve te-la deixado um pouco confusa.-Disse ele sorrindo.

- Cheia de aparelhos? Não estou entendendo, o que está acontecendo? - Peguntou Cinthia

- Você estava em coma  Cinthia, ficou em coma por cinco anos e só acordou a semana passada e desde então ficou em um coma induzido para que suas funções voltassem ao normal gradualmente. - Disse ele

- Mas como é possível, me lembro de sair de minha casa esta manhã para ir ao trabalho. - Sua voz começando a se alterar. Já não tinha certeza se realmente fora nessa manhã.

- Meu nome é Dr. Estevez, você deve ter visto a placa na porta, fique calma, você passou por um trauma muito grande e deve estar muito confusa, com certeza se lembra de ter saído para trabalhar na manhã do acidente, um minuto por favor - Disse Dr. Estevez

Ele pegou o telefone e chamou alguém e em segundos dois homens de uniforme branco entraram na sala. Cinthia achou que fosse enfermeiros, mas eram muito grandes e fortes.

- Cinthia, preciso que se acalme e preste atenção. Você está neste hospital há cinco anos. Sofreu um  acidente grave e ficou em coma todo esse tempo, nós achávamos que não se recuperaria mais, mas há algumas semanas você acordou e se estabeleceu quase que por completo.- Disse o Dr Esteves pausadamente como se estivesse falando com uma criança.

Cinthia levantou de um pulo e ameaçou correr para fora da sala quando os dois enfermeiros a seguraram, sentiu a agulha no braço e logo a sensação de que caia em um buraco escuro e sem fim.

Quando acordou, sabia que passara horas dormindo, estava com a cabeça pesada, os membros pesavam muito, seu cérebro enviava ordens para eles se mexerem mas não respondiam adequadamente. Ficou deitada imgainando que brincadeira era aquela, estava esperando que a qualquer momento seu marido, Michael entrasse no quarto com flores, pedindo mil desculpas pela brincadeira tola. Podia ter sofrido um acidente, mas tinha certeza absoluta que não ficara em coma por cinco anos, só podia ser uma brincadeira de muito mal gosto.

Uma enfermeira entrou no quarto e agora Cinthia notara que dessa vez ele fora trancado.

- Que bom ve-la acordada Sra. Cinthia, todos no hopital rezavam para que esse dia chegasse, a senhora é mais velha aqui que alguns funcionários - Disse a enfermeira em tom de zombaria.

Cinthia preferiu ficar calada, não iria discutir e prolongar a brincadeira. A suposta enfermeira arrumou a sua cama, trouxe algo para ela comer e foi embora. Alguns minutos depois o suposto médico Dr. Esteves entrou em seu quarto.

- Como você está? - Perguntou ele

- Estou começando a ficar muito zangada com essa brincadeira, exijo ver o meu marido e exijo explicações do que realmente aconteceu comigo. Disse Cinthia sem alterar a voz pois não queria ser sedada novamente

- Você irá ve-lo pela manhã, mas gostaria muito que aceitasse o que aconteceu contigo. Terá que se adaptar a várias mudanças em sua vida, portanto vou lhe dar um calmante para que você durma bem essa noite e enfrente melhor o dia de amanhã.

Cinthia estava atônita, como eles insistiam naquela mentira, não querendo mais conversar com o médico, aceitou os comprimidos que ele lhe deu, guardando embaixo da língua sem engolí-los e deitou se virando  o rosto para o canto, dando a entender ao médico que não tinha mais nada para conversar com ele. Depois que ele saiu, cuspiu os comprimidos e sentou se na cama, não sabia se fugia ou se esperava Michael e suas explicações no dia seguinte. Será que fora sequestrada? Revirava na cama sem conseguir dormir, ansiosa para que amanhecesse de uma vez.

No dia seguinte uma enfermeira entrou no quarto com suas roupas e sua bolsa, explicou que Michael chegaria as dez horas e que ela poderia tomar banho e se arrumar sem pressa pois ainda eram oito horas. Cinthia entrou no pequeno banheiro e se despiu, ligou a ducha sentindo a agua quente lhe aquecer o corpo e a alma, ela estava cada vez mais deprimida com aquela situação. No começo achara que era uma brincadeira e que Michael iria irromper no quarto a qualquer momento, mas isso não acontecera e agora estava se preparando para a chegada dele e com as palavras do médico martelando em sua cabeça. Várias mudanças, ele dissera. Que mudanças seriam aquelas, Michael deveriam estar louco para ve-la, seja lá qual foi o tempo que ela ficou internada.Saiu do banho, se vestiu minuciosamente e passou um batom para tirar a palidez do rosto

Estava tensa andando de um lado para outro quando ouviu uma leve batida na porta.

- Entre - Respondeu Cinthia

Lá estava ele, Michael, lindo como sempre, bem vestido e cheiroso. Cinthia correu para os braços dele para um abraço caloroso e protetor que só ele sabia lhe dar, mas o que recebeu foi uma abraço frio, um leve aperto e logo os braços de Michael cairam ao lado do corpo.

- Michael, o que aconteceu, eu não estou entendendo nada. O médico, ou pelo menos aquele Sr. que se diz médico me disse que estou no hospital há cinco anos em coma. Me diga, que isso é uma brincadeira e que nós iremos para casa agora - Disse Cinthia sem entender a frieza do marido.

- Sim Cinthia, você sofreu um acidente logo após sair de casa para trabalhar, um carro atravessou o sinal vermelho e bateu no seu carro. Você foi trazida para cá e ficou em coma até agora, os médicos nem achavam que você fosse acordar. - Disse ele olhando para as próprias mãos

- Não sei o que dizer. Bem, mas agora podemos ir para casa? Quem sabe lá eu possa a começar a me acostumar com a ideia. - Disse Cinthia

- Querida, preciso lhe contar uma coisa, depois de três anos que você estava aqui, conheci uma pessoa, não foi nada calculado, eu estava ficando muito deprimido vendo você na cama e todos me dizendo que você não acordaria nunca mais e que eu devia seguir a minha vida. - Michael disse, tão depressa que Cinthia mal conseguiu entendê-lo.

Ela ficou tão aturdida que não conseguiu dizer uma palavra, sentiu uma vertigem e quase caiu se Michael não a amparasse.

- Nos conhecemos aqui no hospital, ela é uma das enfermeiras. Disse Michael muito encabulado.

Cinthia se lembrou da enfermeira que lhe dera suas coisas, talvez fosse ela.

- Se eu soubesse que tinha uma chance de você acordou isso nunca estaria acontecendo.- Disse Michael com lágrimas nos olhos.

- Michael, eu sei que não é sua culpa, acho que voltarei para casa de meus pais então até saber o que farei de minha vida. - Disse Cinthia, sentindo a vertigem voltar.

- Pensei que o Dr Estevez tivesse conversado com você ontem, ele me disse que iria tentar te deixar a par do que aconteceu nesses cinco anos. - Disse ele nervoso.

- Por que? Aconteceu mais alguma coisa que eu precise saber? - Perguntou Cinthia, achando que nada mais poderia abala-la.

- Seus pai sofre um acidente de carro há três anos e infelizmente faleceu na hora e sua mãe não aguentou perder vocês dois e acabou se matando. Sinto muito, querida. - Disse ele virando o rosto para que ela não enxergasse as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto.

Era demais para Cinthia, sua vida tinha virado de cabeça para baixo, tinha perdido os pais e o marido num piscar de olhos. Pediu para Michael ir embora, não conseguia olhar para ele naquele momento. O que faria agora de sua vida? Os pais e Michael eram tudo para Cinthia. Era filha única e eles viviam só para Cinthia, quando ela se casou, eles fizeram, questão de dar a sua parte na fortuna da família para que vivesse com total conforto e agora eles não estavam mais lá. Como poderia viver sem Michael e seus pais.

Tomou uma decisão, não poderia mais viver, não tinha mais motivos. Saiu do seu quarto que estranhamente não estava trancado novamente e foi até a sala do Dr. Estevez, nem imaginava que horas eram e torcia para que ele não estivesse na sala naquele momento. Entrou na sala e começou a procurar os calmantes que ele havia lhe dado no dia anterior, se tivesse sorte teria um vidro por ali. Num canto da sala achou um armário com vários medicamentos, vasculhou cuidadosamente até achar o que procurava. Colocou o remédio no bolso e retornou rapidamente para o seu quarto.

Sentou na cama com o vidrinho entre as mãos, tinha a certeza do que queria fazer, só gostaria de dar um último adeus para Michael, mas isso com certeza só o deixaria com mais culpa do que a que ele deveria estar sentindo. Abriu o frasco, jogou vários comprimidos na mão e os engoliu.

Em poucos minutos Cinthia já estava sentindo os efeitos do remédio, pensava nos pais em tudo oque eles fizeram por ela, eles não mereciam ter o fim que tiveram e pensou em Michael que pelo menos teriam uma pessoa ao seu lado para consola-lo. Cinthia não sentia mais os membros, e começava a não raciocinar direito. Seu último pensamento foi que assim seria melhor para todos. Quando a enfermeira chegou ao quarto já era tarde demais, não conseguiram salvá-la.

Na manhã seguinte , primeira página de um jornal dizia:

FILHA DE BANQUEIRO COMETE SUICÍDIO DEPOIS DE UMA OPERAÇÃO PLÁSTICA MAL SUCEDIDA.

Na reportagem dizia que Cinthia Furtado filha do banqueiro Sergio Furtado e Mariana Furtado teria se internado a uma semana para fazer uma lipoaspiração e que os resultados não foram o que ela desejava e que depois de uma semana de depressão internada na própria clínica ela se matara tomando uma grande quantidade de calmantes. Seus pais que não sabiam da internação da filha, ficaram chocados com a notícia e estavam reclusos sem querer dar entrevistas. Cinthia ainda deixava o marido Michael Ribeiro que declarara que pedira insistentemente à mulher que não fizesse a operação, mas que ela há algum tempo não estava satisfeita com a sua aparência.

 

Michael estava sentado em um pub em Londres, fazia um ano que Cinthia estava morta e ele acabarade se mudar para Inglaterra. Disse aos sogros que não conseguia mais morar na mesma casa onde vivera com ela tantos momentos felizes. Os  amigos tentavam levar Michael a lugares para se divertir e para conhecer pessoas, mas Michael já havia decidido, não queria morar mais no Rio de Janeiro.

Esperava uma pessoa, olhou o relógio, que já estava atrasada quinze minutos, será que ele entedera as instruções? Virou o corpo em direção à porta e o viu entrando.

- Você está com uma aparênca muito boa, Michael! Dissera o homem que acabar de chegar

- E você também não fica atrás Dr Estevez. - Disse Michael

- Vou pegar alguma coisa no bar ,o que vai beber? - Perguntou Michael

- Pode ser o mesmo que você - Disse Esteves

Michael foi ao balcão do bar e pegou as bebidas, voltando a mesa entregou a bebida a Esteves e sentou-se

- Vamos tomar as bebidas e depois iremos ao meu apartamento para pegar a sua parte no negócio - Disse Michael

- Me diga, só uma coisa, como você sabia que a Cinthia iria cair na história dos cinco anos de coma? Perguntou Estevez

- Ela me amava. Disse ele - Vou ao banheiro e nós poderemos ir. 

Dez minutos depois, Michael sai do banheiro e olha para a mesa em que estava com Esteves, ele está caído em cima da mesa, e ninguém parece notar nada errado. Sai do bar sem olhar para trás. Como fora fácil conseguir a ajuda do médico ambicioso. Todo mundo tem seu preço e o do Dr Estevez

era muito baixo.

E Manuela, a enfermeira que conhecera e começara um caso, mulheres são estúpidas quando se apaixonam, nem exigiu uma parte do dinheiro, contava que iriam casar e ficar juntos pelo resto da vida. Ela fora crucial no transporte de Cinthia para a clínica, que não ofereceu nenhuma resistência depois de tomar os tranqulizantes que ele lhe dera no suco de laranja de manhã. Fora a semana mais comprida de sua vida, mas Michael sabia que daria tudo certo. Os pais de Cinthia o achavam o marido perfeito e nunca iriam desconfiar dele.

Mais uma semana e Manuela estaria boiando em algum rio, por enquanto iria se  divertir mais algum tempo, afinal era ótimo ter companhia naquela cidade com tantos lugares para conhcer  e isso lhe daria tempo para planejar com todo cuidado o que fazer com ela. Chegou ao hotel onde estava hospedado, não seria tão fácil se livrar dela, pensou, mas ele sempre dava um jeito.

 

 

***FIM***

 

 

 

 

 

 

  


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